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4 DIAS EM WASHINGTON, DC

 

ANDRÉ JORDAN | 6.6.2016

Embarquei na United Airlines para Washington no primeiro voo comercial realizado entre as duas capitais. Na sala de embarque discursos, música e champagne. O voo, que por agora é diário será suspenso em Setembro. São 2 ou 3 horas a menos que se for para Washington via Londres ou Newark.

Os Estados Unidos estão em grande ebulição nas vésperas da próxima eleição presidencial em Novembro.

Donald Trump, o bilionário promotor imobiliário e dono de casinos, arrancou a sua campanha para a candidatura do Partido Republicano, baseado na sua popularidade como personagem em concursos televisivos. O seu discurso lembra o arranque da carreira política de Hitler na Alemanha e de Mussolini na Itália no princípio dos anos 30 do século passado, ao apelar aos sentimentos e preconceitos da classe trabalhadora e dos reformados.

A princípio não foi levado a sério. Agora, tendo conquistado a nomeação já antes da convenção do partido, focaliza o seu ataque de metralhadora giratória em Hillary Clinton que, debilitada pela disputa da nomeação do Partido Democrático com o Senador Bernie Sanders, que se intitula um socialista, uma novidade tardia na política americana. Hillary não encontrou o diapasão correcto para replicar aos ataques de Trump. Este, com uma longa carreira de percalços e situações duvidosas, tem muitos esqueletos no armário. A esperança do Partido Democrático é que venha à tona algum caso do passado que possa por fim à improvável marcha triunfal de Trump para a Casa Branca.

Um detalhe curioso é que o Trump como Sanders, recusam revelar as suas declarações de impostos. Trump, o autoproclamado bilionário, porque supostamente tem menos que alardeia e Sanders, o autoproclamado socialista, porque presume-se que tem mais.

O presidente Barak Obama, que começou o seu primeiro mandato muito contestado devido à sua falta de experiência de gestão e curta carreira política, termina o seu segundo mandato em beleza. O sucesso do seu controverso Plano de Saúde, que beneficiou alguns milhões de cidadãos que não tinham qualquer protecção e que baixou os custos médicos, ao contrário do que os seus opositores propalavam, o acordo nuclear com o Irão, a conciliação com Cuba e mesmo a sua actuação relativamente imparcial no Médio Oriente, justificam o Prémio Nobel da Paz, que havia recebido prematuramente.

Ficará residindo em Washington com a sua família, terminando a presidência sem qualquer sombra sobre a sua conduta pessoal, ao contrário de Bill Clinton que ainda hoje tem muitos anticorpos. Obama será, sem dúvida, uma das personalidades mais influentes no mundo nas próximas décadas.

Por falar em Bill Clinton, um escândalo escabroso envolve Kenneth Starr, o procurador especial da justiça nomeado para investigar o caso Whitewater, ocorrido durante o mandato de Clinton como Governador do Arkansas, sobre o qual nada descobriu, mas que continuou vasculhando a vida do Presidente até que caiu-lhe ao colo a estagiária da Casa Branca Mónica Lewinsky, que confessou praticar felácio com Clinton dentro do gabinete presidencial. Agora Starr era Presidente da Baylor University, do Texas, uma escola que através do football americano, arrecada milhões em direitos televisivos. Vários jogadores da equipa foram acusados de pedofilia com violência contra jovens de ambos os sexos. O virtuoso Presidente Starr ocultou as acusações para não prejudicar as receitas televisivas, foi despedido da presidência.

«Washington File» – a revista que é a bíblia social da capital e cuja proprietária e editora é filha do falecido Smith Bagley, marido da bela e influente Elisabeth Bagley, que foi embaixadora dos Estados Unidos em Lisboa durante o Governo de Mário Soares – publicou a lista das 100 personalidades mais influentes de Washington, lista que exclui membros do governo e políticos. O número um é David Rubinstein, presidente da financeira Carlyle e do Kennedy Center for the Performing Arts. O sector de turismo é representado pelo lendário Bill Marriot e pelo presidente da Hilton, Christopher Nossetta.

Uma nota irónica é que enquanto George W. Bush bajulava os sauditas, estes, durante o seu mandato compraram 18 mil milhões em armamentos aos Estados Unidos. Com Obama, que os sauditas não consideram um amigo, compraram 108 mil milhões. Um caso de tough love.

Na volta a Lisboa, enquanto esperei numa carrinha o transporte para o terminal, tinha a companhia de duas idosas muito gordas que declararam ser de North Carolina e que nunca tinha saído dos Estados Unidos. Perguntei-lhes a razão da escolha de Lisboa. Responderam: «Good weather, good food and the cheapest choice.» Será esta a forma de competitividade de que falam as autoridades públicas do sector?

Outros textos e notas soltas

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Um regresso às origens

 

Fiz uma visita de uma semana à Polónia, minha terra natal, acompanhado dos meus filhos. A nossa viagem teve o apoio do Embaixador da Polónia em Portugal, Prof. Bronislaw Misztal e a sua mulher, o que nos proporcionou uma visão profunda e contactos de grande interesse. Foi um regresso às origens depois de ter partido em fuga da invasão Nazi há 76 anos. Não preciso aqui lembrar a história da Polónia, do sofrimento do seu povo e da subjugação pelos seus vizinhos poderosos.

Actualmente, o país que em 1989 se libertou do domínio da União Soviética, teve a capacidade não só de reconstruir Varsóvia, destruída em 90% durante a Segunda Guerra Mundial, como também construir uma democracia verdadeira num clima de prosperidade e igualdade. Um país com temperamento romântico onde prima a boa educação e a importância da arte e da cultura. Chopin está em toda parte...

Falo da Polónia por surpreendentemente verifiquei que não só a maior empresa que opera no país é a Jerónimo Martins, como existem mais de 100 empresas portuguesas em funcionamento e a Câmara de Comércio Luso-Polaca é a mais activa de Varsóvia. A personalidade do mundo do turismo mais importante na Polónia é um português, Gonçalo Duarte Silva, que é o Director Geral do Grupo Sheraton, com 6 hotéis no país, sendo que o Hotel Bristol, uma verdadeira jóia, é o mais importante.

Existe uma enorme simpatia dos polacos por Portugal, apesar de que a maior parte desse interesse esteja focalizado no Algarve e no golfe. Existem mesmo empresários que aproveitam as tecnologias disponíveis e dirigem os seus negócios a partir da praia. Acontece que como no caso da França e do Brasil e mesmo da Grã-Bretanha e da Alemanha, existe um claro déficit de marketing e promoção. Estamos léguas atrás da Espanha em todos mercados.

A vida é feita de opções

 

ANDRÉ JORDAN | jornal EXPRESSO | 22.10.2016

 

Em toda a sua história a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, nunca Portugal esteve tão bem posicionado para que a suas principais cidades e algumas das suas zonas de turismo adquiram um verdadeiro estatuto internacional. Uma coisa é ser uma zona de férias, como tipicamente é o Algarve, e outra é ser o centro a partir do qual o residente estrangeiro tem o cerne das suas actividades .

Este momento acontece em parte por razões circunstanciais, mas principalmente, no meu entender, porque as nossas principais zonas de interesse para os estrangeiros têm características que vem ao encontro do que é sedutor para as camadas mais esclarecidas da burguesia internacional. Clima, segurança, comida, história, boas universidades, povo civilizado e paz social. Aliás, a escolha de António Guterres para Secretário Geral das Nações Unidas confirma de uma maneira dramática a preferência pelas qualidades do país e dos seus cidadãos. As grandes potências se encontraram na contingência de não ter autoridade moral para vetar um candidato independente.

Para transformar estas virtudes tão desejadas no mundo em dinheiro através dos sectores mais directamente comercializáveis neste momento, o turismo e o imobiliário, não basta o sucesso de estima, sendo que para obter um verdadeiro impacto substancial e duradouro nas finanças do país, no emprego e no crescimento, é preciso a mobilização das melhores técnicas de marketing.

Um entrevista de Paulo Melo, presidente da Somelos, uma das maiores empresas europeias do sector têxtil, sublinha esse persistente deficit da economia portuguesa. Ante à pergunta do jornalista “Somos excelentes produtores e maus comerciais, é isso?” ele responde “Temos um deficit comercial não só no têxtil, nessa matéria precisamos de crescer. Falta-nos ainda uns anos de traquejo para saber vender ao mais alto nível.”

Eventos de qualidade repetidos regularmente, campanhas de opinião junto aos sectores que são verdadeiramente rentáveis, são algumas das medidas concretas indispensáveis. Os nossos organismos estatais de promoção comercial, apesar do seu empenho e boa vontade, não têm acesso aos verdadeiros opinion makers como as organizações especializadas dispõem. O aspecto mais negativo do aparente sucesso que estamos a ter neste momento é de que a Internet, da maneira em que está a ser utilizada, enfatiza o baixo custo da visita e da residência em Portugal. Se dobrasse-mos os preços, ainda assim seriamos muito competitivos. Os aumentos que tem havido não cobrem sequer os juros dos financiamentos devidos pelos operadores

A realidade, escamoteada por interesses políticos imediatistas, é que andamos baixando a qualidade e os empregos que criamos são temporários. Vários grupos financeiros e industriais estrangeiros vêm transferindo as suas operações de software para Portugal. Este fenómeno deve ser acompanhado e apoiado. Não é preciso ir muito longe para ver com quantos paus se faz uma canoa.

A Espanha, que teve uma violenta crise nos sectores dos quais falamos aqui, com falências de grandes grupos, não só vem recuperando como tem neste momento 10 vezes mais turistas do que Portugal e vende 20 vezes mais casas do que nós, o que tem contribuído fortemente pra o crescimento económico de 3% que regista.

Os objectivos dos quais aqui falo são perfeitamente alcançáveis a curto prazo e não é preciso grandes investimentos de infra-estruturas ou equipamentos novos. É compreensível a austeridade que o Governo impõe a todas as despesas, inclusive as promocionais, mas acredito, por tê-lo feito no passado, que é possível encontrar mecanismos para mobilizar e financiar o sector privado para um objectivo que pode transformar Portugal num grande centro de residências, negócios e actividades comerciais de nível mundial.

The Portuguese Style

 

ANDRÉ JORDAN | Revista PEOPLE & BUSINESS | 01.02.2010

In the early days of business manuals it was recommended for a product to have a «unique selling» proposition.

As we know, Marketing has always been a weakness in the Portuguese Economy. The Portuguese, proud and shy, find it embarrassing to sell. These characteristics have been felt in the Tourism and Resort Development business.

Even during difficult times, such as the sector is presently experiencing, there has been little effort by the private sector to mobilize the ideas, resources and energies that would help to face and overcome the crisis. It is true that we have been hit by a triple whammy – world recession, internal recession and the devaluation of the Pound.

However, a unique situation has emerged, one that presents to Portugal an opportunity that may not be repeated. Mainly the collapse of the spanish market, the demise of Dubai and the spontaneous emergence of “The Portuguese Style” - comfort, simple elegance and good taste, the introduction of the new while preserving the old, politeness and discretion, good food without concocted innovation, affordable prices, security and respect for the environment comprise a unique selling proposition that cannot be reproduced elsewhere.

The recent Climate Summit in Copenhagen has demonstrated the scientific and political uncertainty in relation to climate change and the protection of the environment.

Unfortunately, the debate has acquired political characteristics with the right generally in favor of untrammeled development and the left fighting to stop the wheels. Naturally, as in most things in life, the truth can be found in the middle.

The Tourism industry in Portugal has adopted a pro-active attitude in relation to the environment, and it is understood that the reduction of the consumption of energy and the control of the polluting emissions of CO2 is the responsibility of each individual entrepreneur. Therefore, the Tourism industry in Portugal, and in particular the golf sector, find themselves in the forefront of energy conservation and the preservation of natural resources.

We are far from perfection, but no matter where the debate might lead us, we are convinced that this strategy can only be positive for our business, for the country and for humanity.

Portugal has excellent golf courses, some beautiful monuments and landscapes, but is the quality of its style that can make the difference.

There is a market out there. Let’s go for it.

Estrelas, prémios e vistos dourados

 

ANDRÉ JORDAN | 12.12.2016

A situação económica difícil em que Portugal se encontra é periodicamente aliviada por prémios e distinções de vária ordem que recaem sobre entidades portuguesas. Nas últimas semanas são as estrelas do Guia Michelin. Efectivamente tem havido uma notável evolução culinária e alguns dos chefes de cozinha, bem como chefes estrangeiros que aqui trabalham, têm sido estrelados.

Sou amigo de alguns deles especialmente do José Avillez, do Belcanto, em Lisboa, que é o nosso Jamie Oliver só que melhor e do Leonel Pereira, do São Gabriel, no Algarve. Aprecio a cozinha do Ricardo Costa, do Hotel Yeatman, em Vila Nova de Gaia, um magnífico hotel resort urbano, com uma localização única que é no meu entender um dos melhores e mais bonitos hotéis em qualquer parte.

Dito isto, gostaria de assinalar que a maioria dos estrangeiros que nos visitam tem uma marcada preferência pela comida portuguesa, especialmente os peixes. Este tipo de restaurantes está ausente do Guia Michelin. Não conheço muitas casas fora de Lisboa e do Algarve, mas sou testemunha que muitos conhecedores consideram o Fialho, em Évora, o melhor restaurante do país.

Nos peixes e mariscos temos o Porto de Santa Maria e o Monte Mar, no Guincho, o Café In, na Av. Brasília e o Ramiro, na Almirante Reis. No Algarve o Gigi, na Quinta do Lago, é reconhecido internacionalmente. Quando encontro pessoas no estrangeiro que visitam o Algarve sempre me perguntam pelo Gigi. E já agora, o velho Gambrinus, com os mariscos e as suas perdizes estufadas também merece reconhecimento pela consistência, pelo serviço e pelo café de balão.

Claro que os velhos como eu têm saudades dos antigos Avis e Tavares.

Quanto aos prémios, temos a orgia dos Travel Awards, uma ideia genial de uma organização que atribui prémios auto nomeados e pagos de acordo a uma tabela que pode ser consultada no site da organização, em dezenas de categorias em centenas de países e todos os seus eventos são cobertos por patrocínios, tal como os banquetes de premiação pelo mundo afora. Cada auto-nomeado recebe um diploma que pode emoldurar e orgulhosamente exibir na recepção do seu estabelecimento. Para se ter uma ideia do funcionamento deste inteligente esquema, basta dizer que um simpático hotel no Algarve foi pela 4ª vez consecutiva “votado” como o melhor hotel resort do mundo. Na minha modesta opinião, não é o caminho para o upgrading e para a valorização do nosso produto turístico.

Os Vistos Dourados, concedidos a cidadãos de fora da União Europeia, se transformaram numa grande confusão. Demoras de 18 meses na emissão ou mesmo na renovação dos vistos trouxe processos contra Portugal instaurados por investidores que se sentem ludibriados, em que uma ideia que parecia boa para dar um pontapé de saída no mercado imobiliário se transformou num pesadelo pela mal organizada execução.

Sou favorável a estes vistos, bem como à concessão de estatuto de residente fiscal não habitual a estrangeiros, mas considero que Portugal tem vantagens atractivas suficientes para conquistar turistas e residentes de boa categoria, utilizando campanhas de promoção e apoiar eventos dirigidos ao interesse dos seus mercados alvo, para além de uma inteligente utilização na Internet.

Portugal nunca esteve tão na moda e nunca precisou tanto de turistas e de investidores estrangeiros, num quadro de muita incerteza a todos os níveis e em toda parte. Enquanto alguns países da União Europeia são invadidos por refugiados, Portugal pode ser o refúgio de pessoas que buscam qualidade, tranquilidade e segurança para as suas vidas e o seu património.